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Atualizado: 25 de mar. de 2021

Nossa sugestão da semana: Michel Foucault e a verdade cínica

Este livro analisa o último curso de Michel Foucault no Collège de France, A coragem da verdade, privilegiando a relação entre cinismo e verdade. Com linguagem apurada, Ernani Chaves entremeia a análise foucaultiana do modo de vida cínico e de sua parrêsia particular – a arte do dizer verdadeiro, corajoso e escandaloso –, com a discussão de noções pregressas de sua obra. Ademais, estabelece as bases para um diálogo entre Foucault, Marx, Nietzsche, Benjamin e Baudelaire, tendo o cinismo como ponto de intersecção. Tudo isso é permeado por referências criteriosas a estudos nacionais e internacionais, aspecto que torna este livro um exemplo de pesquisa a ser seguido. Seu ponto alto reside na hipótese de que o anti- historicismo de Foucault permitiu-lhe estudar a ascese cínica sem perder de vista certas experiências ético-políticas da modernidade, nas quais vida e pensamento também se entrelaçaram, tornando-se a vida uma obra de arte. Foucault pôde estabelecer tais correspondências por conceber a filosofia como atividade destinada a traçar um “diagnóstico” da atualidade, tarefa designada finalmente em termos de uma “ontologia do presente”. Seguindo este fio condutor, Ernani Chaves disseca a análise foucaultiana das posteridades transhistóricas do cinismo, em sua discussão sobre as continuidades e descontinuidades entre o modo de vida cínico e a ascese cristã medieval, a vida dos revolucionários do XIX e do XX, bem como a “vida artista” de poetas, escritores e pintores como Baudelaire e Manet, entre outros. Para Ernani Chaves, a investigação do cinismo antigo levou Foucault a reatar seu interesse pelo potencial transgressor da arte e da literatura modernas, abrindo campo para novas perguntas sobre a relação entre verdade e cinismo no presente. Afinal, se o cinismo, enquanto técnica de vida do dizer e do viver verdadeiro, corajoso e escandaloso, não se esgotou na antiguidade, quais seriam suas reverberações nas atitudes críticas da vida contemporânea? Eis aí uma entre as tantas questões que esse livro notável é capaz de inspirar.


André Duarte é professor de Filosofia na UFPR



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